Ele tinha o hábito de sentar-se à mesa todas as manhãs para o seu desjejum.
A copeira servia-lhe o café numa xícara de porcelana, acompanhado de um pequeno prato com bolachas de mel.
Seu olhar se perdia horas a fio diante daquela casa. Havia algo melancólico naquele humilde prédio abandonado. E os dias passavam cada vez mais lentos diante daquela janela.
Tornou-se quase impossível sentar-se ali sem esperar que algum vulto aparecesse.
A imaginação diante da imagem, quase que uma obra de arte, corria solta até não ter mais o que beliscar à mesa.
Certos devaneios aguçaram seus instintos a ponto de quase sentir o cheiro do alho fritando na panela, ou o gritar das crianças a correr pela casa atrás de travessuras.
Certa manhã, viu uma moça, com bonés no cabelo, sentar-se na varanda para fumar um cigarro, enquanto a criada pendurava as roupas no varal.
De certo que há muito não entrava uma alma sequer naquela casa, nem viva, nem morta.
O que se mantinha vivo ali era apenas um romanticismo de um hóspede deste lado de cá do muro.