Felicidade

 Hoje em dia somos bombardeados pelo mundo virtual por vários ideais de vida e começamos a acreditar que a felicidade depende disso tudo. Será mesmo?


Ao nortearmos a nossa vida pelas metas que queremos alcançar, a fim de sermos felizes, tenho a sensação de que corremos o risco de ficarmos condicionados nessa busca incessante por mais, mais e mais e nunca nos contentarmos com o que já temos, pois sentimos que a plenitude está sempre no próximo objetivo, na nossa próxima conquista, que por sua vez é substituído por outros anseios, em um ciclo sem fim.


Ao focarmos na escassez, a abundância se afasta. É algo lógico pois, enquanto não finda esta lista de desejos, o sentimento de angústia, por ainda não ter isto ou aquilo, nos domina e acabamos não valorizando aquilo que já temos. Chamo isso de negação do presente. É um processo egóico que nos isola no individualismo, onde ninguém pode nos atrapalhar nem nos desviar do nosso foco. Assim, a realidade vai ficando cada vez mais distante. Uma vez nessa realidade fictícia, danificamos o nosso amadurecimento e distorcemos a perspectiva sobre o cotidiano, ambos tão importantes para o nosso crescimento como seres humanos.


Vemos essa fuga da realidade nos arquétipos, posicionados de forma moldada por grandes empresas e disseminada pelos influenciadores digitais.  A indústria da felicidade, apresentada nas mídias sociais, nos levam a valorizar o “curtir a parte boa da vida”, a nos escravizar, nos infantilizar. Isso mesmo, pois  na maturidade sabemos que a vida real é bem mais complexa do que viajar para compartilhar cartões postais, comer em restaurantes da moda e ter um corpo moldado fisicamente. Infelizmente, não existe uma fórmula mágica para sermos felizes o tempo todo. Em um dia estamos lá em cima e em outro lá embaixo, a vida é cheia de momentos bons e ruins que se completam e enriquecem a nossa percepção


Ao negar a realidade, nessa imagem adulterada, quando o indivíduo se depara com qualquer situação adversa que não corresponda a esse mundo idealizado, tende a sofrer uma reação emocional mais forte, como um choque interno entre essas versões de mundo incompatíveis, trazendo insegurança, baixa autoestima e uma percepção distorcida em um viés negativo. A consequência provável é que ocorra um grande desânimo até culminar em depressão, distúrbios alimentares, ansiedade e outras patologias psicológicas.


Essa tendência social do “tenho que ser”: mais magro, mais feliz, mais realizado, mais jovem, mais estabilizado, talvez não esteja conseguindo ressignificar o discurso e somente enxergar o mundo através do que falta: carro, casa, família, status, carreira. O problema da vida perfeitamente idealizada é que nutrimos uma constante frustração toda vez que comparamos quem somos com quem nós idealizamos ser. É um lugar nunca alcançado.


Quando somos gratos pelo que temos, quando focamos no que vivemos no presente, agradecendo o que já conquistamos, na pessoa que nos tornamos, damos ênfase na realidade genuína com uma postura madura. Nem tudo são flores, nem tudo é perfeito. E tudo bem!


O que achamos que; não deu certo não é culpa da minha família, dos meus pais, nem do país onde eu nasci. São experiências que envolvem muitas variantes, e que também contribuem para que possamos tomar decisões com mais assertividade daquilo que desejamos para o nosso presente e futuro.


Sou muito otimista e acredito que nós somos pessoas comuns tentando melhorar a cada dia. Muitas vezes nos sentimos cansados de tanto correr atrás da vida que dizem ser alcançável e nos sentimos inferiores ao valorizarmos a vida que até aqui foi possível. O processo de mudança concreta de pensamento e de atitude dói, mas transforma. Mexe com toda a nossa estrutura, derruba nossas crenças limitantes e nos coloca onde realmente devemos estar, diante dos nossos limites e de frente para nós mesmos.


O que se revela muito importante, é aprender a dar valor ao caminho já percorrido e reconhecer o quanto já aprendemos e crescemos com as nossas conquistas. Entender a ideia de quem somos; focar no que é possível e não no que é ideal.


Portanto, que possamos nos despir desses conceitos impostos por esta parte da sociedade alienada e tomar posse da abundância. 


Aí eu te lanço esta questão:


Quais são as condições que você se impôs para se sentir feliz? Consegue reconhecer no presente onde mora a sua felicidade?

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